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Memórias encarnadas
na melancolia da Ilha do Cabo
depois do Uíge na Uízi
do Zavula no Cazengo
meu teceiro país agora marítimo
sem onças nem veados
sengues nos rios
camaleões nos paus
nem escusas nduas ou tucanos
lebres hienas helicombres
perdizes ou cordonizes
nem salalé de jinguna
mas com kiandas albinas
kikatas furiosos no olhar
kakulus só para o mirar de alguns
feitiços e feiticeiros poderosos
que navegam a crista das ondas
comandam o engravidar e o parir
das marés
descendentes de cabindas
e mussurongos do Kongo dya
Ntotela
de kimbundus do Ngola Kiluanji
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Subi ao morro mais elevado
da memória onde conversam
sentados
o velho Amaral do Golungo
o Serra famoso do Queta
o Rocha anguloso da Tombinga
o sábio Mateus do Kisekula
o Ferreira Pinto da descida
do Alto da Bandeira do Cadete
o Bernardo de Sousa
que me marcou para toda a vida
com o amparo da vacina salvadora
o Domingos Van Dunem em suas
visitas fugazes
o Roberto Silva pintor aclamado
e hoje esquecido nas vielas da
pátria
e tantos e tantos outros
a Kamundai o Kilombo
terras do Cazengo de morros
verdejantes
subidos e descidos por camiões
prenhes de sacos de café
e suores dos contratados
café de Angola partido para longe
em sacos cosidos por mão hábeis
grossas e calejadas
café da nossa riqueza
café da nossa miséria
colhido ao som da palmatoada
no zurzir agreste do chicote
nos lombos nus dos perdidos
para São Tomé transferidos
que tanto acumularam em si
para um dia perderem o medo
cada gesto um furacão
que tudo varreu à sua frente
ao som dos batuques
das catanas afiadas ao fio fino
nos segredos do fechamento dos
corpos
dos cordões gordurosos atados às
cintas
soons de revolta nos murmúrios e
olhares
ditos em surdina
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