sábado, 21 de janeiro de 2012

CANTOS 1 e 2



1
Sem desígnio
invoco o morro da memória
no trinar das cigarras
disperso na fadiga
do batuque
que chamava a noite
e o fim do morro
entregues por mais um dia à lua
antes de descer o morro
pelo funil do trinar das cigarras


2
Fui criança da chuva
em terras de esperança
fui chuva criança
pela mão da minha avó
escura
como o breu envolvente
da miséria de um povo
sem caminho nem vau
no rio grande
por onde subiu a nau
de velas insufladas
ao anúncio dos ngoma
dos chingufu
dos tambores surdos
e do ulular rítmico
no queixume das sereias
coladas à morte pegajosa
penetrando silenciosa
as rugas dos desejos impossíveis
como visgo escorregadio
no casco das árvores milenares crescidas a esmo

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